terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Os perigos potenciais da sujeira no ambiente domiciliar

Professores Pedro Manuel Leal Germano & Maria Izabel Simões Germano
Coordenação do Curso de Especialização em Vigilância Sanitária de Alimentos

Vamos considerar uma casa média com 2 ou 3 dormitórios, sala de jantar, sala de estar, copa e cozinha, 1 ou 2 banheiros e área de serviço. Isto corresponde a um apartamento. Se for uma casa, térrea ou sobrado, há que se incluir quintal, gramado, plantas, gaiolas para pássaros, locais para criação de cães e gatos, etc., etc..
Portanto, vamos nos ater ao apartamento.

Bolores e mofos e até ácaros são acumulados, facilmente, em livros, nas estantes, por motivo de umidade e pouca luminosidade. Do mesmo modo podemos encontrar excesso de poeira acumulado, por falta de limpeza periódica. Nos dois casos, o problema diz respeito a alergias, não só de pele como respiratórias, sobretudo, rinite e asma.
Nos lugares do apartamento com estofados, carpetes e cortinados valem as considerações anteriores. Contudo, há alguns agravantes, como o mau uso por parte de crianças, animais de estimação, os próprios donos e as visitas – sapatos, roupas usadas no trabalho e nos transportes coletivos, o hábito descuidado de comer e beber sobre sofás e poltronas, além de jornais jogados sobre esses assentos: onde há sujeira sempre há a possibilidade de microrganismos, germes se preferirem, se acumularem e serem disseminados para outras dependências, seja pelas pessoas, seja pela transferência de objetos de uma sala para a outra ou, ainda, pelo próprio ar ambiental. Isto piora se houver ventilador e condicionador de ar – ácaros. Novamente, os problemas são de ordem cutânea e respiratória.
O mesmo raciocínio se aplica para a denominada sala de jantar, onde os acidentes são mais comuns, embora a maior parte atinja a toalha. Porém, o solo, seja de madeira ou de cerâmica é vítima importante, onde a matéria orgânica vai se espraiar. Novamente, o problema diz respeito às bactérias, especialmente as patogênicas para o homem.
Importante: enquanto não houver acúmulo de matéria orgânica, as bactérias não terão condições de proliferação.

A cozinha é outro problema, pois quando se retorna das compras de perecíveis, as próprias matérias-primas têm sua flora de parasitas, muitos deles patogênicos para o homem e para os animais. Isso pode ser evitado através de medidas de higiene rigorosas, desde a colocação das embalagens sobre a mesa ou balcão da pia, até sua colocação nos armários, freezer e geladeira – que devem estar rigorosamente higienizados. O rompimento da embalagem plástica do frango, por exemplo, após descongelamento, é perigoso porque o líquido avermelhado que vasa do pacote, geralmente está contaminado, com freqüência por enterobactérias patogênicas, entre as quais se inclui a Salmonella enteritidis.
A geladeira, quando a 4o C, preserva os alimentos e impede a multiplicação dos microrganismos, garantindo sua inocuidade. Porém, como todos os equipamentos da cozinha, deve ser mantida bem regulada e limpa, principalmente em sua parte interna, gavetas e prateleiras – de preferência higienizada com água e bicarbonato ou outro produto adequado (sanitizante). A grande maioria das bactérias é afetada por temperaturas baixas, exceto a Listeria, que é encontrada com freqüência nos ralos da cozinha e que consegue multiplicar-se nos produtos estocadas na geladeira. Os alimentos que necessitam ser conservados em geladeira, devem obedecer os prazos estipulados para cada produto. Geladeira não mata microrganismos. Geladeira não se estraga quando se colocam alimentos, ainda, quentes – apesar de tudo o que está no seu interior vai sofrer um aumento da temperatura, que deverá perdurar por um curto lapso de tempo.
O mesmo princípio se aplica para o congelador (freezer) – higiene e desinfecção são sempre soluções práticas que diminuem, substancialmente, os perigos dentro de uma cozinha.

A água destinada aos alimentos deve ser, de preferência, filtrada, evitando-se aquela proveniente de caixas de água, sobre a qual não há qualquer registro sobre a qualidade higiênico-sanitária da água. Água de má qualidade pode ser responsável pela veiculação de vírus, entre os quais destacam-se a Hepatite A e o norovírus. Além destes patógenos, vale mencionar a criptosporidiose, provocada por um protozoário.
A maneira de reduzir os perigos de uma cozinha consiste na limpeza com água e detergente, para remover gorduras; na desinfecção com cloro; e, no ato de destinar todos os resíduos indesejáveis para a lixeira, a qual deverá ser mantida com tampa.
Moscas e baratas são prejudiciais à saúde por transportarem nas patas, antenas, corpos e asas microrganismos patogênicos.
Outra observação importante: folhosos para saladas e outros fins, assim como, frutas devem ser higienizadas, lavadas e desinfetados com cloro; matérias-primas como carnes e peixes devem ser consumidas cozinhadas. O consumo de pratos crus é perigoso e a responsabilidade é do próprio consumidor.

Problema com banheiros. É claro que constituem um ambiente passível de perigo, principalmente, se as condições de higiene, manutenção e conservação não forem adequadas. O vaso sanitário deve ser mantido com a tampa, permanentemente, fechada; bidê, banheira, lavatório, box de chuveiro ou ducha são peças que exigem limpeza periódica e regulagem adequada, no que tange ao fluxo de água e escoamento para o esgoto. Equipamento bem regulado, notadamente a descarga, não deve permitir o refluxo da água para o piso, muito menos jatos à distância. Complementarmente, restos de sabonetes não devem ser mantidos, indefinidamente, nas saboneteiras, sobretudo se estiverem ressecados e sujos. Pentes e escovas, também, devem ser higienizados, de modo a que não haja acúmulo de cabelos – problema de ordem estética; e, prevenção de doenças parasitárias.
Mas, o grande problema com a higiene dos banheiros diz respeito às enterobactérias, entre as quais podem ser citadas: a Salmonela spp, a Shigella spp, e os coliformes fecais, grupo no qual se encontra a Escherichia coli. Novamente, referem-se vírus, como o da Hepatite A e os norovírus. Além destes, podem ser mencionados, todos aqueles patógenos do homem, causadores de transtornos gastro-intestinais, traduzidos, em geral, por diarréia e vômitos. Neste contexto, pode-se até referir os helmintos, como ovos de áscaris (lombrigas) e anéis de tênia (solitária).
Nos banheiros, a lixeira, revestida de saco plástico, deve ser mantida tapada e limpa, diariamente, com a remoção de seu conteúdo para a lixeira principal do apartamento. A lixeira do banheiro é altamente contaminada por microrganismos – coliformes fecais e outras bactérias.
Escovas de dentes devem ser mantidas em posição vertical, após remoção de pasta dentifrícia e resíduos.
Torneiras, registros, botão de descarga e outros acessórios do banheiro podem ser fonte de contaminação, na dependência da higiene do usuário – falta de educação e mesmo de cidadania.

Todos os armários, recipientes, estojos, caixas, utensílios do banheiro devem ser mantidos limpos, pois estão sempre sob manipulação de mãos. Lavar as mãos é um hábito sadio para todos, inclusive o próprio usuário. As mãos conduzem, fatalmente, à contaminação dos alimentos, seja uma simples maçã, seja um prato pleno de quitutes preparados com todo o esmero higiênico-sanitário.

Maus hábitos de higiene, como assoar o nariz sobre qualquer peça do banheiro, sobretudo lavatório, provocam disseminação de microrganismos alojados nas fossas nasais, como o Staphylococcus aureus, responsável por inúmeras patologias do homem. Estes maus hábitos, também, podem favorecer a disseminação de Streptococcus pyogenes, causadores de graves infecções, particularmente, em crianças.

Os quartos são peças íntimas, que devem ser preservadas de excessos, tais como: visitas, animais de estimação e mesmo lanches com sanduíches e bebidas. Migalhas, restos de comida, líquidos acidentalmente borrifados sobre cobertas, lençóis e almofadas acabam por atrair insetos indesejáveis, além de gerarem odores repulsivos. Os mesmos problemas relatados no primeiro tópico são aplicáveis, a este contexto.
Fazer a cama é uma condição meramente de higiene. Tapetes no quarto favorecem acúmulo de poeira e, conseqüentemente, ácaros, assim como, o ar condicionado do dormitório. A troca periódica de filtros deste aparelho se impõe como modo de reduzir a carga bacteriana acumulada ao longo dos meses de uso.
O quadro é mais complicado quando há enfermos acamados. Neste caso, os microrganismos do doente disseminam-se através do ar ambiente para todas as dependências, tal como ocorre nas infecções respiratórias, provocadas por gripes, complicações pneumônicas e bronquites. Mais grave, ainda, se o enfermo padecer de tuberculose.
Roupas sujas devem ser lavadas conforme a necessidade. A máquina de lavar roupa, bem como, a secadora, devem estar reguladas e limpas. Roupas de enfermos, com doenças contagiosas, devem ser lavadas em separado, para evitar disseminação dos agentes patogênicos.
A higiene é fundamental. Lavar as mãos, ao chegar da rua, antes de comer, após utilizar o banheiro, antes de utilizar o teclado do microcomputador ou notebook, para digitar dados, cartas ou textos, ou mesmo abrir correspondência eletrônica é um hábito salutar. Evita a disseminação de patógenos do ambiente externo para o interior do apartamento, bem como, sua disseminação por todas as dependências. Diminui, inclusive, a contaminação de telefones fixos, interfones e dos próprios telefones móveis (celulares). O mesmo se aplica para interruptores, maçanetas e superfícies em geral.
Correção de maus hábitos é imprescindível. Animais de estimação são bem vindos, desde que vacinados, bem alimentados, e mantidos em áreas próprias, limpas e abrigados de intempéries naturais – chuva, granizo, excesso de frio ou de calor. Contato com animais estranhos, mesmo que de vizinhos é perigoso. Contato com animais de rua é indesejável.
Gatos arranham. Cães mordem. Todos urinam e defecam. Têm diarréia e vômitos. Padecem com problemas respiratórios, tossem e espirram. Espirram e têm catarro. Por isso devem ser tratados com responsabilidade. Animais de estimação, bem cuidados, alegram o ambiente, ajudam as crianças a criar afeto e responsabilidade, a respeitar e compreender os animais.
Pêlos de gatos, em pessoas alérgicas, podem exacerbar a sintomatologia, seja de natureza cutânea, seja de origem respiratória. Os cães, também, podem provocar os mesmos problemas, porém com menor freqüência.

Dedetização do apartamento, só com empresas idôneas, para evitar má utilização de produtos tóxicos. Crianças, pessoas sensíveis, idosos, grávidas, convalescentes, pássaros e animais de estimação devem ser afastados desse ambiente, de acordo como estipulado pela empresa. Transgredir estas instruções é assumir um perigo por irresponsabilidade.

Importante lembrar: sujeira não aumenta imunidade, contudo ninguém é saudável se for mantido em ambiente estéril. Limpeza e higiene diminuem a carga contaminante aos limites toleráveis pelo organismo humano e animal.

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